segunda-feira, 26 de junho de 2006

Drummond

Ouvindo: Chris Daughtry - Hemorrhage by Fuel
Humor: Feliz



Sabe quando você lê uma frase e você pensa: “puxa, parece que foi escrita pra mim.” Tudo que eu leio do magnífico Carlos Drummond de Andrade me cai como uma luva. Ele é uma das poucas pessoas que eu digo que gostaria de conhecer.
Se for pra eu citar um autor que me toca e que é a sintonia da minha vida, sem pensar eu diria: Drummond, esse é O CARA!
Abaixo o primeiro poema que eu li dele, eu devia ter uns 11 anos e era um dos meus preferidos.

O SOBREVIVENTE

Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema - uma linha que seja - de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.

Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.

Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta
muito para atingirmos um nível razoável de
cultura. Mas até lá, felizmente, estarei morto.

Os homens não melhoram
e matam-se como percevejos.
Os percevejos heróicos renascem.
Inabitável, o mundo é cada vez mais habitado.
E se os olhos reaprendessem a chorar seria um segundo dilúvio.

(Desconfio que escrevi um poema.)

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