quarta-feira, 24 de junho de 2009

Quem é mais sentimental que eu?

  Na sintonia de: Sam Phillips - How to dream



Em julho de 2004 eu estava chegando lá, com a cabeça cheia de sonhos e com o coração batendo forte de ansiedade. Em julho de 2004 eu era um pouco do que sou agora, mas fui alguém que já foi embora. Lembro como se fosse hoje, eu sentada na cantina sozinha com o caderno na mão e uma bolsa breguinha que nem uso mais no ombro.

Eu ia estudar no “céu”, no bloco mais alto da universidade, e por precaução caso eu me perdesse ao procurar a sala de aula anotei em uma folha todas as coordenadas para chegar até lá – na época o GPS ainda não era tão comum. As coordenadas eram as seguintes:

“Ando até o bloco tal, viro à direita, subo a escada, viro novamente à direita, pego o elevador, aperto no número 6, viro novamente à direita, ando uns 100 metros, e finalmente pego à esquerda.”


Eu era uma legítima caloura, daquelas bem perdidas e assustadas que foi parar direto no 2º semestre do curso de Publicidade e Propaganda. Aquela não era a minha turma, eu sabia que no próximo ano iria estudar no 1º semestre com a minha sala oficial e assim aconteceu.

Turma PP 27, tanta coisa aconteceu durante esses quase 5 anos, tirei aparelho, chorei, abracei, conheci gente nova, briguei, me acalmei, fiz carteira de motorista, assisti filmes, li muitos livros, conheci os textos da Martha Medeiros, aprendi a fazer roteiro, filmei, fotografei, fiz estatística, comprei uma calculadora que está empoeirada na gaveta, entrevistei a Martha Medeiros e claro, troquei as baladas por passar noites em claro finalizando trabalhos.

No começo da faculdade era tão permitido não saber o que queria seguir, era até cult dizer que estava procurando um caminho certo para a carreira profissional, confesso que até reforçava esse pensamento com o batidíssimo (porém lindo) Filtro Solar que diz “ não se sinta culpado por não saber o que fazer da vida, as pessoas mais interessantes que eu conheço não sabiam aos 22 o que queriam fazer da vida, alguns dos quarentões mais interessantes que conheço ainda não sabem”. Como assim Bial? E por que todo mundo cobra tanto?

Aí no meio da faculdade já estava apegada, havia escolhido os amigos mais especiais, as equipes para os trabalhos e então comecei a sentir a responsabilidade de um adulto (e eu que achava isso tão brega). O despertador se tornou meu inimigo - mor, o ônibus que antes era das 6h20 passou pras 7h30, afinal o que é chegar um pouquinho atrasado na faculdade, não é mesmo?

Daí a necessidade de procurar um emprego virou um desespero, depois dos 56798 currículos veio o estágio. Momento de penar no trabalho, e se esforçar pra continuar na faculdade.

E o TCC? Bom, o TCC é um caso a parte. É o trabalho mais trabalhoso e importante até aqui. E eu que achava que não ia conseguir (ainda falta apresentar), é tão legal ver essa evolução.

Foi então depois da calmaria da entrega do Trabalho que, em um breve silêncio surgiu o barulho da ficha caindo: as manhãs não serão mais as mesmas, o pessoal que faz parte de uma rotina diária e constante só vai fazer parte de uma doce lembrança. Os aprendizados, o cheiro do ambiente acadêmico, o Nescau quentinho da cantina, os almoços com a amiga. Tudo vai direto pra gavetinha do cérebro e pra dentro do coração.

A faculdade era um resquício de quem eu tinha sido um dia e agora ela diz pra eu me despedir dessa lembrança.

Adeus faculdade, olá mundo adulto. Quanto às dúvidas? Ah, entrei com a cabeça cheia delas e saio com mais ainda, acho que vou seguir a recomendação do Bial: vou me permitir.