domingo, 29 de abril de 2007

Pensamentos avulsos.

  Na sintonia de: Ivete Sangalo e Rosa Passos - Dunas

"Estou com saudade de mim. Ando pouco recolhida, atendo demais ao telefone, escrevo depressa, vivo depressa. Onde está eu?

Preciso fazer um retiro espiritual e encontrar-me enfim - enfim, mas que medo - de mim mesma."
Clarice Lispector em "A descoberta do mundo".



segunda-feira, 16 de abril de 2007

O que é que as madeixas têm

  Na sintonia de: Hugh Grant & Haley Bennett - Way Back Into Love


De alguma maneira as madeixas compridas sempre fizeram parte da minha característica. Não é algo como a força que dava a Sansão. O cabelo comprido não revela meu poder, mas ele me dá identidade, a identidade da menina ingênua que pode usar tranças. E digo com experiência, quanto maior o cabelo melhor o cafuné.

Na época da infância mamãe me levava forçadamente para a cabeleireira, a desculpa era para cortar as pontas das longas madeixas (acho que eu me inspirava na Rapunzel). Sem que eu notasse, ela fazia o sinal para a tia do salão aumentar o comprimento da tesourada . E quando enfim eu olhava o corte através da imagem refletida pelo espelho, na expectativa pelo resultado final, desatava num choro desesperado, por achar que o um centímetro e meio que a tia cortou me deixou careca.

Apesar de sempre fazer questão de ter os cabelos longos, nunca estou satisfeita como eles são (será que alguém está?). Sempre invejei os cabelos das propagandas de shampoo, os cabelos fininhos que conseguem a incrível façanha de estar em um vendaval, com fios traspassando pra lá e pra cá e mesmo assim, continuam lisos, bonitos e nem um pouco bagunçados.

Alguns otimistas dizem que não preciso mudar o meu cabelo, que tenho que aceitar ser mais uma mortal insatisfeita... Mas sabe como é, Por mais que tentem nos convencer, a gente está sempre em busca do melhor shampoo pros nossos problem... ops, cabelos. Enquanto isso continuo deixando-o longo pro cafuné continuar sendo tão gostoso.

domingo, 1 de abril de 2007

A presença que está ausente

  Na sintonia de: Wilson Simoninha - Ter você

48 lugares ocupados. 48 vidas que se contrastam justamente pela diversidade. Nesse lugar as diferenças são nítidas.
Tem o garoto que adora abrir a janela para sentir a brisa em seu rosto. Já ao seu lado, a menina mais contida que prefere a janela fechada para não estragar o penteado.
Mais a frente, o senhor que abotoa a camisa até o colarinho, ele segura com as mãos cansadas o papel da aposentadoria. (ainda tem esperanças de conseguir).
Tem também a pequena menina de tranças com a mochila grande, mal ela sabe que esqueceu de fazer a tarefa pedida pela professora.
No fundo, a garota que veste preto está ouvindo em seu Ipod músicas com letras melancólicas e esperançosas. Os silenciosos corredores são tomados pela música ambiente. O refrão diz alguma coisa do tipo: “nois trupica mas não cái....” ritmo que faz com que a senhora elegante e simpática que está sentada bata seus pés freneticamente, conforme o ritmo da música. (Esse estilo musical fez lembrar dos tempos da juventude).
O garoto intelectual lê revistas de Economia da semana como passatempo. Ali, as horas passam devagar.

Tem o homem que fica na frente de todos. É uma espécie de comandante. A cada curva, consegue demonstrar seu descontentamento com alguma coisa, não se sabe se é com a música ambiente, com seus sapatos apertados ou com a esposa que saiu brigada no café da manhã. Só se sabe que a cada curva raivosa que faz, os 47 que estão atrás se chacoalham todos para a mesma direção.

São 48 lugares ocupados por pessoas diferentes, mas que se igualam por terem os pensamentos em algum lugar lá fora.

“A solidão é invisível. Só é percebida por dentro.”(Martha Medeiros)