Humor: Satisfeita
Era uma vez José e Maria, pessoas simples que carregavam a esperança em seu olhar. No auge dos seus 14 anos, eles se conheceram e Maria por falta de informação ou descuido engravidou. Ao contar para seus pais que eram pessoas simples, foi expulsa de casa e sem a esperança que antes existia em seus olhos, resolveu fugir com José para construir uma nova vida. Afinal, eles iriam ter uma família, a sua família.
No começo, a novidade e a serotonina estavam aguçadíssimas. Encontraram uma casinha velha, porém, Maria fez questão de colher flores, daquelas de jardim mesmo, para tornar seu cantinho mais aconchegante.
Com o passar das semanas as flores murcharam, o dinheiro para o aluguel da casa não aparecera, e o amor de ambos que antes era imenso, estava menor que a barriga de 9 meses de Maria.
O bebê nasceu, era um menino com o nariz do pai, com os olhos da mãe, e com o cabelo... Bom, o cabelo ainda não tinha aparecido.
José não tinha um emprego fixo, fazia um “bico” de vez em quando como servente de pedreiro, e o pouco que recebia era gasto nos impostos da fralda e leite para seu filho.
Ah, esqueci de mencionar, depois do primeiro filho vieram mais cinco.
A esperança de Maria e José que aos 14 anos sustentavam suas vidas, hoje fora transferida para seus filhos.
Joaquim, o filho primogênito já estava com sete anos, era um menino serelepe e inteligente. Mas passava a maior parte do dia tendo que cuidar dos outros quatro irmãos pequenos. O sonho de Joaquim era ser jogador de futebol, vez ou outra treinava no terreno baldio do vizinho. Ele tinha um pôster do Ronaldinho Gaúcho colado na parede do quarto que dividia com os irmãos.
Um dia a filha caçula do casal estava com uma grave pneumonia. Seus pais aflitos, a levaram para o hospital que estava lotado. Seu pai não se conformava porque não tinha os mesmos direitos que a senhora que chegou de Audi no mesmo hospital e furou a fila, será que era por que ela tinha um tal de plano de saúde?
A vizinha do casal recomendou um chá, disse que ia curar. Infelizmente não curou. A filha caçula não resistiu e morreu dois dias depois.
Vendo a situação de sua família, Joaquim resolveu ajudar seus pais, começou a vender balas e algodão doce no sinal de trânsito. Vendia em média 15 por dia. Às vezes mais, às vezes menos. A escola que antes era um dos seus programas prediletos, não era mais tão freqüentada por ele.
Hoje, Joaquim está com 16 anos, não é jogador de futebol, não freqüenta mais a escola, cresceu vendo cada dia que passava sua mãe ganhar marcas tristes de expressão no rosto, seu pai desacreditado mal vinha para casa. Hoje, o futuro jogador de futebol é traficante, têm no seu currículo, furtos, tráfico de drogas e um assalto à mão armada na casa daquela mesma senhora que furou a fila do hospital, onde sua irmã não teve as mesmas chances e morreu.
Ops, mas cadê o final feliz? Ah, esqueci, essa não é uma história fictícia, ela está presente nas estatísticas brasileiras.
http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI1254494-EI994,00.html